Cusco;

adj. s. m. 1. Que ou aquele que é excessivamente curioso em relação a algo ou alguém, intrometendo-se de forma indiscreta para satisfazer a sua curiosidade. = abelhudo, bisbilhoteiro;

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sábado, 24 de abril de 2010

19:00hrs.

Tenho cheiro de cebola em minhas mãos. Estava cozinhando um macarrão, preparando o seu molho, cortando seus ingredientes em pedaços pequenos, separados em ordem e dispostos na bandeja bem posicionada ao fogão. Correu tudo perfeitamente bem, exceto pelo cheiro de cebola em minhas mãos. Cebola é ótimo. Procuro sempre tê-las em minhas receitas, mas não nas mãos. Em ambas. Entre os dedos. Debaixo das unhas. Saindo pelos anéis. E toda vez que levo a mão ao rosto me lembro do jantar. Por mais agradável que seja o sabonete usado no banheiro, esse cheiro simplesmente.. não sai.
Consigo conviver com isso, por um tempo. Talvez até o próximo banho. Mas o fato é que há algo além disto. Não que eu goste - ou não, de cozinhar, o que eu não gosto é de comer sozinha. Com aquele silêncio, pura mastigação. De quê adianta preparar um prato e não ter ninguém pra elogia-lo? Ou mesmo apenas para acrescentar um pouco mais de sal. Eu comi, como e ainda vou comer.. sozinha. Aqui. Lá. Na sala ou na cozinha. Coisas simples, gostosas, grudentas, salgadas, no ponto. Sem sobremesa, com suco, sem faca. Pensando no próximo passo, talvez na próxima refeição, ou em quem será que vai chegar. Se é que alguém vai chegar. Se é que há alguém, além de mim, que se importe. Alguém que não se importe. Podem até me ligar, a comida esfria mas eu não me importo, não volto a comer. Congelo. Tomo outro banho, bastante sabão. Sabão. Sabão. Sabão. Sem cebola, sem cheiro, sem lembranças, sem jantar, sem companhia. Da próxima vez, uso luvas.